quinta-feira, 13 de setembro de 2007

COMPONENTES DA CONTABILIDADE NACIONAL


A dimensão de uma economia é geralmente determinada através da quantificação do valor total da produção de bens e serviços realizada num país durante um ano, ou seja, pelo PIB (Produto Interno Bruto)


Medição do Produto

Os três tipos de actividade que se exercem numa economia: produção, despesa (nos bens e serviços produzidos) e distribuição do rendimento (gerado na produção) correspondem a três ópticas de medição e cálculo do produto:

 óptica da produção
 óptica do rendimento
 óptica da despesa



1) ÓPTICA DO PRODUTO

Valor Acrescentado Bruto (VAB) – o valor que cada actividade adiciona ao Valor do produto final em cada etapa do processo produtivo.


Duas Formas de Cálculo do VAB

Método dos Valores Finais: considera apenas o valor dos produtos que não irão sofrer mais alterações

Método dos Valores Acrescentados: considera apenas o contributo de cada empresa para o valor da produção

FIG- 0





PROBLEMAS

a) O problema da dupla contabilização

Uma vez que cada empresa, para produzir os seus bens, recorre a outros bens (matérias-primas, bens intermediários), se não houver certos cuidados na contabilização, corre-se o risco de cometer erros de duplicação.


b) Amortizações

Os bens de capital duradouro têm como destino serem utilizados na produção de bens finais, por isso pode haver interesse em deduzir anualmente o equivalente ao desgaste "médio" da máquina.



2) ÓPTICA DO RENDIMENTO

Além da parte das amortizações, o Estado arrecada impostos indirectos (PNB - Amortizações - Impostos indirectos = Rendimento Nacional).

Mas para passar do Rendimento Nacional ao Rendimento Disponível, é preciso ainda ter em conta que:

• O Estado cobra às empresas e aos particulares impostos directos.
• As empresas fazem a sua própria poupança.
• Os particulares recebem certos subsídios por parte do Estado ou beneficiam de remessas de emigrantes.

FIG- 0.1




3) ÓPTICA DA DESPESA

Nesta óptica, importa distinguir as despesas de consumo (ou despesas correntes), das despesas de investimento, sendo uma parte delas de responsabilidade de particulares e outra do Estado.


Classificação da Despesa

Consumo Privado (C):
despesa nos produtos consumidos e pagos directamente pelos residentes

Consumo Público (G):
despesa feita pelo sector público administrativo em produtos, essencialmente serviços

Investimento (I): divide-se em:

Formação Bruta de Capital Fixo, que é composto por toda a despesa em aumentos de maquinaria, edifícios e outro capital produtivo;

Variação de Existências, que consiste na variação de bens que se encontram armazenados.

Exportações (X): despesa feitos pelos não residentes em bens e serviços vendidos por residentes

FIG-1

Parte da procura global é satisfeita por importações (M) e não por bens produzidos internamente.

FIG- 2

Despesa Interna = Consumo + Gastos do Estado + Investimento + (Exp - Imp)



A Despesa Interna representa a despesa feita em bens e serviços produzidos internamente, incluindo os bens produzidos e armazenados.


FIG- 3


Produto Interno e Produto Nacional

Na produção interna são utilizados factores de produção que não pertencem a residentes e simultaneamente factores de produção de residentes são utilizados no estrangeiro.


PNB = PIB + (Exportações - Importações)


Produto Bruto e Produto Líquido

A depreciação do equipamento utilizado nos processos produtivos representa uma redução do valor desses mesmos equipamentos - amortização.

PIL = PIB - Amortizações

PNL = PNB - Amortizações


Custo de Factores e Preços de Mercado

Preços de Mercado:
valores transaccionados no mercado, ou seja, preço pago pelo consumidor final.


Custo de Factores:
valores que reflectem os custos de produção.

FIG- 4



A UTILIZAÇÃO DE MATRIZES INTER-SECTORIAIS


FIG-5


Lendo “EM LINHA” (na horizontal) observa-se o que cada sector proporciona:

- a ele próprio e a cada um dos demais, com mat. primas ou bens intermédios,

- a uso final: bens de investimento, bens de consumo e a exportação.



Lendo “EM COLUNA” (na vertical) observa-se onde cada sector vai buscar:

- matérias primas e bens intermédios necessários à sua produção,

- mat. primas e bens intermédios importados e os impostos devidos pela actividade empresarial.


PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB) PER CAPITA
Serve para me dividir a actividade económica e riqueza produzida num país num determinado período de tempo.
1. Conceito
Relação entre o Produto Interno Bruto ( PIB ) e a população no mesmo período.
2. Interpretação:
Mede a produção dos sectores da economia por habitante. É uma medida de riqueza.
3. Utilização:
• Comparações entre diferentes regiões no intuito de identificar possíveis situações de pobreza.

• "Proxi" da condição social, utilizada como análise aplicada ao bem estar de uma população.
4. Método de Cálculo:
PIB de um determinado período
------------------------------------------------------------
População no mesmo período, geralmente um ano

5. Limitações:
O indicador suscita cautela na sua utilização.

• Havendo alterações no valor da moeda (alterações de preços), as taxas de evolução dos valores monetários, não correspondem a iguais taxas de evolução dos valores reais;

Diferentes perspectivas temporais
(bens de consumo vs. bens de investimento)

Um dos problemas em análise de dados é não ter em conta o factor tempo.



Como efectuar então comparações inter-temporais?


PIB PREÇOS CORRENTES (PIB nominal)

Permite avaliar variações de preços e quantidades;


PIB PREÇOS CONSTANTES (PIB real)

Permite avaliar a variação das quantidades de bens e serviços produzidos.



• o PNB só abrange os bens e serviços que passam pelo mercado, donde um certo numero de omissões.

Subavaliação muito maior nos países subdesenvolvidos.


• os custos sociais e humanos não são contabilizados como custos, mas como acréscimos do produto nacional.


• o esgotamento da natureza através da extracção e utilização dos recursos naturais não é compensado pela dedução do custo de reposição destes recursos no estado inicial


• regiões com PIB per capita muito alto podem esconder situações de pobreza, porque a riqueza pode estar muito concentrada;


FIG- 6

A (RE)DISTRIBUIÇÃO DE RENDIMENTOS

MEDIÇÃO DA DESIGUALDADE

Desigualdade = "falta de igualdade" em oportunidades, tratamento ou status.

O RENDIMENTO PESSOAL COMO PROVA de que alguns indivíduos são mais iguais que outros, para citar um adágio popular.

A DISTRIBUIÇÃO DO RENDIMENTO COMO UM INDICADOR de facto da desigualdade.

O rendimento, ao contrário da oportunidade ou do status, pode realmente ser medido com alguma precisão.


• Repartição dos cidadãos em classes de rendimento, observando qual a percentagem de rendimento que cabe a cada uma.

Se se verificasse uma repartição igualitária, não haveria necessidade de haver uma repartição por classes, não havendo “os mais pobres”, ou inversamente “os mais ricos”.


• A CURVA DE LORENZ E O COEFICIENTE DE GINI


CURVA DE LORENZ

Num relatório do BID sobre o desenvolvimento económico e social, os pesquisadores do Banco usaram respostas a perguntas sobre rendimento em pesquisas de unidades domiciliares.


As respostas foram representadas como uma curva ascendente num gráfico que mostra a percentagem de todos os rendimentos ganhos por segmentos de uma população.
O diagrama (ou curva) de Lorenz mede, no eixo horizontal, as percentagens acumuladas da população, ordenada do mais pobre ao mais rico; e, no eixo vertical, as percentagens acumuladas da renda total.


 Numa sociedade perfeitamente igual, essa linha seria uma diagonal recta: é a igualdade total na distribuição.


 A situação oposta é aquela em que a curva de Lorenz coincide com o eixo horizontal, menos no último ponto: toda a população, menos um, tem renda zero, e o último detém toda a renda.


No caso da América Latina, a curva apresenta uma depressão acentuada para baixo.


FIG- 7


COEFICIENTE DE GINI


O índice de Gini, mede a área entre a curva de Lorenz e a diagonal, varia entre zero (igualdade total) e um (desigualdade absoluta).


 O seu coeficiente representa o desfasamento entre a perfeita distribuição diagonal e a curva de distribuição real de um dado país.

 “0” indica perfeita igualdade de rendimento;

 “1”, no extremo oposto, significa que o rendimento está concentrado numa única pessoa.


Em 95 de 100 países para os quais se obtiveram dados comparáveis, o coeficiente de Gini vai de 0,26 a 0,60. Na América Latina e no Caribe, ele vai de 0,59 no Brasil a 0,43 no Uruguai.

FIG- 8
LIMITAÇÕES

 Os indicadores de rendimento de Gini e outros esclarecem apenas uma estreita faixa da realidade.

 Supõe-se que outras dimensões, como saúde, educação e consumo, sejam reflectidas pelo rendimento, mas por vezes não o são. Por exemplo, países com índices de Gini comparáveis podem ter indicadores de saúde radicalmente diferentes.


AS CAUSAS DAS DESIGUALDADES


• As fortunas (e as heranças) são uma consequência e um efeito da desigualdade na redistribuição dos rendimentos numa dada economia;

• As qualificações da população, que dependem do acesso à educação;

• A capacidade (ou predisposição) para assumir riscos – empreendedorismo.



POLÍTICAS DE REDISTRIBUIÇÃO


POLÍTICAS FINANCEIRAS
(intervenção pelas finanças publicas, através de receitas ou despesas)


• Política fiscal

Avulta a utilização de impostos com o objectivo de promover uma melhor distribuição do rendimento e/ou riqueza.


• Política de despesa

Actuação pelo lado da despesa, com o fornecimento de bens públicos


POLÍTICA DE SEGURANÇA SOCIAL
(Todos os que trabalham descontam para a Segurança Social, incluindo as entidades patronais)

• A redistribuição dos rendimentos poderá advir pelo menor pagamento de pessoas com menores recursos e inversamente pelos maiores benefícios para esses estratos populacionais por diversas vias.


POLÍTICAS DE PREÇOS E RENDIMENTOS
(Intervenções que permitem alterar o livre jogo das força de mercado)

• fixação de preços máximos por produto ou serviço
(bens e serviços essenciais, saúde, educação …

• estabelecimento de um rendimento mínimo para todos os cidadãos.




APRECIAÇÃO DAS POLÍTICAS DE REDISTRIBUIÇÃO


• a questão da EQUIDADE


Será justo permitir o mesmo rendimento para o cidadão preguiçoso e para o cidadão trabalhador?


Não seria um desincentivo ao trabalho, à criação de riqueza e ao desenvolvimento?


• A desigualdade como forma de premiar o risco e o empreendedorismo.


Mas deve-se manter contudo um padrão de rendimento mínimo que permita também o desenvolvimento de uma economia!



OSCILAÇÕES DA ACTIVIDADE ECONÓMICA


• Não há uma linha contínua na actividade económica dos países.


• A actividade económica é cíclica.



O CONTRIBUTO DA ECONOMIA DO LADO DA OFERTA


• A capacidade de produção de um país, condicionando os níveis de actividade e de emprego pode ser considerado como um dado, a curto prazo;

• Um aumento das despesas poderá levar ao escoamento de bens (que de outro modo ficariam por vender) ou ao aumento da produção;


• Tratam-se de respostas que têm como limite a capacidade instalada;


• Na linha keynesiana, deve-se intervir, contribuindo-se para uma utilização plena dos recursos que leva a uma produção de bens maior com relevo para a mão de obra excedentária;


• Quando se chega à plena utilização de recursos de nada adianta fazer ou promover o aumento da despesa;


• Actualmente continua a ter grande aceitação a SUPPLY SIDE ECONOMICS, Não é saudável procurar promover uma economia sem se actuar na sua base, no que pode proporcionar uma máxima eficiência;


• A necessidade de actuar pelo lado da oferta, ganha maior importância num contexto de integração das economias.


TIPOS DE DESPESAS


DESPESAS DE CONSUMO PRIVADAS


1. A FUNÇÃO CONSUMO


• Existe uma relação funcional entre o consumo e o rendimento, de acordo com a fórmula:

C = C(R)

• Não se trata de uma função constante. Verifica-se que a propensão marginal para consumir vai diminuindo à medida que o rendimento aumenta.





FIG- 9







• Até ao rendimento Rm, o consumo é superior, feito com recurso a desentesouramento, ou a crédito;


• a partir de Rm, o consumo cresce a um ritmo inferior ao rendimento, permitindo a poupança de rendimento adicional (aforro ...)



2. A FUNÇÃO AFORRO

O aforro é dado pela diferença entre o rendimento e o consumo.

S = R – C(R) = S(R)

• Sendo o aforro (S) a diferença entre o rendimento e o consumo, e dependendo este do rendimento, o aforro acaba por ser também função do rendimento;


3. A LEI DE ENGEL (1883)

FIG- 10


• Em relação aos bens de consumo alimentar, “quanto mais pobre é uma família, maior é a despesa em alimentação” (em termos percentuais);

• De acordo com esta lei, eA < 1, o que exprime a relação inversa que se verifica na sua procura em relação ao consumo total;



DESPESAS DE INVESTIMENTO PRIVADAS

• Neste tipo de despesas de investimento pode-se distinguir:
o Formação bruta de capital fixo;
o Matérias primas e bens de consumo intermédio;



• O investimento depende:
o Do seu custo (expresso na taxa de juro);
o Das expectativas quanto à sua viabilidade: TIR, VAL ...







DESPESAS PÚBLICAS

• Despesas determinadas por razões políticas, dependendo das opções de quem está no poder;


1. AS DESPESAS CIVIS DE CONSUMO

Despesas relacionadas com o funcionamento dos serviços: remunerações de capital, gastos correntes;


2. A FORMAÇÃO BRUTA DE CAPITAL FIXO

Despesas relacionadas com infra-estruturas e equipamentos ...


3. AS DESPESAS MILITARES

Despesas mais relacionadas com a proximidade de tempos de conflito;



O EXTERIOR
O As relações comerciais com o exterior têm um impacto muito grande na economia, principalmente de pequenas economias abertas, como é o caso de Portugal;
O No caso português, além do relevo dado às exportações de mercadorias, reveste particular importância as despesas de turistas estrangeiros;
O Este aumento de rendimento depende também do crescimento do rendimento dos principais parceiros mundiais;
O Há outra componente do rendimento, que não tem consequências na produção nacional: as importações e os rendimentos dispendidos no exterior em turismo;



GRANDES DIFERENÇAS NA ESTABILIDADE
o Para além da capacidade de influenciar a economia via despesas, está a sua estabilidade;


Despesas privadas:

o consumo ou investimento? A diferença básica resultará de se tratar de bens consumíveis ou duradouros;
o Num período de depressão a despesa em bens de consumo não sofre grandes oscilações, ao contrário do que ocorre com bens duradouros, com pequenas excepções;


Despesas públicas:

o Despesas civis de consumo são incompressíveis;
o A formação bruta de capital fixo pode ter grandes alterações, sendo habitual a contenção de despesas de investimento em períodos de recessão;
o Instabilidade nas despesas militares, que aumentam exponencial quando é desencadeado um conflito;



OS EFEITOS CUMULATIVOS SOBRE O RENDIMENTO


O EFEITO “MULTIPLICADOR”


 A despesa em investimentos produtivos acarreta acréscimos mais que proporcionais no rendimento;


O EFEITO “ACELERADOR”

o Um aumento do consumo exigindo novos equipamentos pode ter um efeito acelerado, na medida em que seja maior o aumento percentual na compra dos equipamentos;


O EFEITO “PROPULSOR”

o Quando se verifica um efeito conjugado do multiplicador e do acelerador, i.e. o consumo que resultou do investimento inicial, tem logo no período seguinte consequências num acréscimo acelerado do investimento, que por sua vez terá efeito multiplicativo no rendimento ...




A ESTABILIZAÇÃO (CONJUNTURAL) VS CRESCIMENTO


• Não tem utilidade a intervenção pelo lado da oferta quando a economia está numa situação de pleno emprego:

 Não pode haver um aumento real da produção;

 O efeito dá-se pelo aumento de preços e/ou aumento de importações (défice da BP);

 Aumento de desemprego;


• Num período de depressão a despesa em bens de consumo não sofre grandes oscilações, ao contrário do que ocorre com bens duradouros, com pequenas excepções;

• Com a entrada na zona euro, a política monetária seguida tem como objectivo central a estabilidade dos preços;